Investigação científica paga pelos portugueses é-lhes inacessível
Exijamos investigação aberta e em língua portuguesa
Através de notícia do El País, soube do resultado dum estudo do Real Instituto Elcano e da Organização de Estados Ibero-americanos (OEI): 84% dos investigadores ibero-americanos escolheram publicar em inglês em detrimento da sua língua materna espanhola ou portuguesa em 2020.
No artigo, Ángel Badillo1 apresenta três razões principais para a ditadura do inglês na produção académica e científica:
- A impressão errada de que o que é escrito em inglês tem mais qualidade;
- O sistema de incentivos, que premeia o número de citações acima de tudo;
- O facto de serem anglófonas as duas empresas, Elsevier e Clarivate Analytics, que avaliam e publicam o principal da produção mundial.
Ángel Badillo explica ainda que as revistas que divulgam artigos científicos recebem-nos de graça, para depois os venderem a preços exorbitantes em avulso. Fica-nos então o produto da nossa ciência e investigação duplamente inacessível: temos de pagar para lhe aceder (depois de o termos já pago com os nossos impostos), e só é compreendido por quem fale língua estrangeira ao Estado que a subsidiou.
Exijamos que a nossa política de subsídios públicos2, para toda e qualquer investigação, requeira:
- Que, se o trabalho não vier a ser realizado em língua portuguesa, dele seja feita uma obrigatória tradução integral para português;
- Que, independentemente das revistas a submeter o trabalho realizado, a sua versão portuguesa seja disponibilizada em repositório nacional aberto e gratuito.
2 A começar pelos da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).